terça-feira, 27 de abril de 2010

E eu que queria tão pouco da vida


E eu que queria tão pouco da vida
fui escolhendo atalhos
acabei tendo uma profissão não tão bem sucedida
não tive filhos
fui deixando alguns amigos de lado
e o amor nunca se concretizou de fato

E eu que queria tão pouco da vida
fui me mau dizendo por caminhos opostos
de coisas demoradas
e esperanças perdidas

E eu queria tão pouco da vida
fui tentando ser forte
deixando de dizer o que gritava meu norte
e engolindo sapos

E eu que queria tão pouco da vida
fui me achando boa demais
e acabei submissa a anseios que de longe desejo
não serem mais meus

E eu que queria tão pouco da vida
fui levada pelo vento
perdendo oportunidades
e catando papéis jogados de um prédio
bem mais alto do que calço

E eu que queria tão pouco da vida
fui submergindo
em sentimentos reprováveis
pensando ser por acaso
todos os fatos

E eu que queria tão pouco da vida
fui me cegando
para todo prazer
que pude ter

E eu que queria tão pouco da vida
fui duvidando da providência
e pedindo perdão por todas as dúvidas
que tive quanto a Ti

E eu que queria tão pouco da vida
fui querendo ter mais
para não me contentar com tanto menos
que a vida me ofereceu

E eu que queria tão pouco da vida
fui pedindo para os anjos
não verem tanto lamento


E eu que queria tão pouco da vida
fui desejando um pouco mais de amor
um bibelô
caixas de sapato contendo fotografias
um lugar que coubesse a mim
e os meus pés descalços

domingo, 18 de abril de 2010

Além de mim


Queria escrever sobre algo além de mim
mas, é que tenho um universo tão inacabado
de angústias, inseguranças, incertezas
que por si só já compõem tantas páginas

Quando deixo muitos espaços de tempo em branco
é porque a dor está submergida, sufocada
dentro de uma capa maltratada
por tantas esperanças dilaceradas

Tenho coisas boas sim
mas, repito
não sei exalar felicidade
ela quando vem logo se dissipa
em sonhos que ainda não construí

Meu egoísmo, orgulho e egocentrismo
não me deixam ir muito longe de mim
tento me doar
mas, logo retorno
procurando mais entendimentos
para uma vida inteira sem respostas

Já me tornei chata, repetitiva, sem graça
de tantos altos e baixos
idas e vindas
tentativas vãs de encontrar um caminho
que me leve para longe
muito longe
do lugar onde me encontro

Preciso me rever
talvez necessite ser mais enérgica
gritar além das palavras
já me escondi demais
em letras garrafais
que não soam nada

Preciso olhar pra frente
ver gente
que me acrescente
um pouco além de mim

Vou indo
não sei por quanto tempo
espero voltar pra contar
que aprendi a reparar
além de um palmo